ando triste.
não tenho a pretensão que sou feliz sempre. escrevo aqui episódios engraçados: recebo os vossos emails a elogiarem o meu sentido de humor e a minha força {aliás, devo um agradecimento pelos mesmos: o meu muito obrigada}, mas a minha vida não são só episódios cómicos. há dias que me apetece chorar. durante anos não os passei para segundo plano: vivia a tristeza com a mesma intensidade que a alegria. nos últimos meses, tenho tentado passar por cima deles: sorrio a cada lágrima que quer sair; espanto a ansiedade e tristeza com gargalhadas sonoras {quem me conhece sabe que rio muito alto: quase de forma escandalosa}; trabalho para esquecer uma parte da minha vida; danço quando o meu corpo quer aninhar-se e ali ficar a lamber as feridas; oiço a música num volume demasiado alto, para abafar o que a minha alma grita; atiro-me a quase todos os projetos com medo que no futuro algum me falte; dedico-me ao próximo com afinco e esqueço-me que também tenho direito que alguém se dedique a mim; tenho uma rede de amigos, de família e de ajuda que poucos podem gabar-se de ter, mas que não colmatam todas as faltas que tenho. sou de afetos, de abraços embora não seja cutchi cutchi. largo tudo para ajudar alguém, mas cruzo-me com poucas pessoas como eu! isto não é um julgamento: cada um faz o que pode. só que sinto-me um et no meio disto tudo. se há uns anos deixava que me roubassem bocados da alma, hoje travo-me e imponho limites. não queria ser assim. gostava que me deixassem ser eu. sou tão melhor do que isto. mas, se a vida me impõe que seja assim, assim serei. sou feliz na maior parte do tempo, mas hoje não me neguei viver a tristeza: hoje chorei. e espero chorar mais. não podemos negar-nos a sentir tudo: o bom e o mau, com a mesma intensidade. eu neguei nos últimos meses e vi que não era o caminho. não quero ser azeda e sei que não sou. mas, andei a lutar para ser mais feliz: cheguei à conclusão que só o serei se também souber ser infeliz, se souber beber a tristeza do momento, tenha ela a duração que tiver. tenho a vantagem de durar pouco, então para quê nega-la?