"{...} Passou-se muito tempo. Os detalhes perderam-se. E daí? Pode ser que ele faça todas as coisas que tu fazes, escondida. Sem deixar rasto nem pistas. Talvez ele passe a mão na barba mal feita e sinta saudades do quanto tu gostavas disso. Ou percorra trajetos que eram teus, na tentativa de não deixar que tu te disperses das lembranças. As boas. Por escolha ou fatalidade, pouco importa, ele pode pensar em ti. Todos os dias. E ainda assim preferir o silêncio. Ele pode reler os teus bilhetes, procurar o teu cheiro em outros cheiros. Ele pode ouvir as tuas músicas, procurar a tua voz em outras vozes. Quem nos faz falta acerta o coração como um vento súbito que entra pela janela aberta. Não há escape! Talvez ele perceba que tu fazes falta. E diferença. De alguma forma, numa noite fria. {...}"
Caio Fernando de Abreu