"Deus deu-me, entre muitas outras coisas, uma enorme capacidade de sentir. sim, sentir. olhando de soslaio, todos sentimos: uma dor de dentes, uma enxaqueca ou uma tremenda dor de corno. dói sempre. sentimos sempre. principalmente no último caso, o nosso ego (gigante) sente como se fosse único neste universo (gigantesco). para meu grande desassossego, eu sinto que sinto mais. eu sinto mais. o que pode parecer presunçoso, é, muito contrariamente, uma capacidade que gostaria de ter pela metade da dose. um copo de shot de quando em vez, mais que bastava. tudo o que sinto é demais. em excesso. ou de menos. em vazio. sem encontrar aquele meio-termo lixado, normal, também conhecido por equilíbrio. sinto o que quero, e o que não quero. há uma voz cá dentro que não sabe estar calada. que grita no meio do meu sossego, invariavelmente alcançado a sangue, suor, lágrimas e alguns alteradores de personalidade. esta capacidade que Deus gentilmente me concedeu, não me deixa viver em paz. não permite alguma morte cerebral ou simplesmente adormecida, nem que seja por uns instantes, nem que seja para fingir que não aconteceu, que não sei nada, que está tudo bem. tudo bem. comigo meus queridos, amores e amigos, do coração e do peito, nunca nada será "ok", se não o sentir "ok". sinto-o à distância. eu não sou o melhor dos dois mundos, não sou a ideal: aquela que sente, mas quando precisa está adormecida numa espécie de hipnotismo do "amor". não me aconselho, porque comigo a paz terá sempre de ser verdadeira, tudo terá que ser muito, imenso, intenso e, acima de tudo, verdadeiro. por sentir muito, a minha entrega é sincera e exagerada. quando deixo de sentir a minha fuga é rápida. não vivo na virtude, no ideal. não sei viver no ideal. por isso, não me peçam o melhor dos dois mundos, o sentir, o calar, o aceitar a meia dose, não agradecer ter a metade, quando me ofereço inteira e sentida. demasiado sentida. ".
Mas foi a Miss Pu, do Blogue dos Indecisos Anónimos.
Talvez um dos blogues que mais gosto de ler, porque identifico-me por completo. Ainda outro dia, disse isso, à autora: leio-a e revejo-me nas palavras, nos sentimentos, neste sentir imensurável. Dava tudo por sentir menos e ser mais racional. Mas, eu sinto na pele, na alma, com os cinco sentidos sempre no alerta máximo. E isto, cansa-me. Esgota-me a alma. Contrariar a minha natureza não é o caminho, já tentei. Sou demasiado intensa e entrego-me a tudo de forma apaixonada: de corpo, alma e coração. Sou toda sentir e não tenho o meio termo, não há morno, só quente ou gelado. Essa merda lixa-me.