terça-feira, 20 de maio de 2014

mesmo

"Então: o fundamental do que te quero dizer é isto: amanhã há um dia novo. Percebes a grandiosidade disto? Esta merda é tão grande e tão avassaladora mesmo que só por um dia, mesmo que só por uns minutos. Se estivesses aqui, caído do nada, por um ou dois ou três minutos já irias embora a dizer que isto foi a melhor experiência que tiveste, a mais filha da puta de tão boa experiência que tiveste. Bastava-te um minuto, pá. E já está: já estavas conquistado, arrebatado. Bastava-te um minuto e já estavas feliz para sempre. Mas não, meu. Não, pá. Tu vais ter, e com sorte vais ter ainda muitas vezes, amanhã. Amanhã vais acordar (e até dormir é do caralho, até dormir é uma experiência-limite, uma morte dos pequeninos, entrar noutro território, viver outras vidas na tua; foda-se, é tão bom. Tão bom. Mas nem vou por aí porque senão nunca mais saía daqui)... Amanhã vais acordar e tens a possibilidade de tudo outra vez. Podes sentir o mesmo e vais sentir o mesmo, e podes ainda sentir mais. Ainda mais, já viste bem? Mais coisas novas. Mais coisas pela primeira vez.".

 in "Prometo Falhar", a mais recente obra de Pedro Chagas Freitas.