domingo, 2 de fevereiro de 2014

Para ti, querida Sofia:


Porque mesmo que ele - já - tenha outras, acho que o que acontece é isto*. Foi uma certeza que me veio quando te desliguei o telefone. Sabes que sou destas intuições repentinas. Por vezes, andam uma vida inteira à nossa procura noutros corpos. Uns perderam-nos para sempre, desses tenho pena; outros, sempre nos tiveram aqui, mas não percebem, não vão perceber. Seguem o caminho mais tortuoso, achando que é o mais seguro e sereno. Não nos têm na vida deles, porque não nos aguentam. E ficam a aguentar algo que não cabe na vida deles.
 
* "É ela. É sempre ela. Para onde quer que olhe, para onde quer que vá. Seja quem for que fotografe. É ela. É sempre ela. O rosto dela, os traços dela, o jeito dela. E ouço-a falar. E sei exactamente como ela fala, e conheço exactamente o tom de voz dela, cada pausa, cada esgar, cada momento em que pára para pensar e cada momento em que pára para sorrir. E sou eu que paro. Sou eu que, ao vê-la em cada espaço por preencher dentro dos meus olhos (e o que são os olhos senão espaços por preencher; espaços sempre por preencher?), não paro. Continuo a encontrá-la. E não sei o que hei-de fazer para lhe fugir (como se foge do que está por dentro dos olhos? como se escapa do que não pode ser eliminado, do que não é mais do que um pensamento dentro da cabeça? como se escapa do que não existe? como se acaba com o que nunca começou?), não sei o que hei-de fazer para me fugir."
pcf