quarta-feira, 16 de outubro de 2013

A semana passada em conversa com uma amiga


Contava-lhe que tinha esperado 40 anos para sentir uma deceção. Já me tinha sentido desiludida, magoada, mas que tinha percebido que a deceção é algo muito mais forte. É um embate muito violento, tão violento que não chega a doer, só mata. Essa deceção fez com que alguém morresse-me. Não há outra palavra e julgo que nem existe esta conjugação: morreu-me. Morreu-me na alma. Quatro dias depois chorei, mas as lágrimas foram tão vazias que nem sei se se pode chamar àquilo chorar. A deceção é algo avassalador, é brutal, de uma violência sem tamanho. Essa amiga dizia-me:
 
- Que bom que só agora a experimentaste: aos 40.
- Sim... é verdade. Tinha passado bem sem ela, mas chegar ao meio da vida e nunca a ter sentido é bom, sim.
- Faz-te acreditar menos na humanidade...?
- Não. Isso nunca. Eu tenho uma filha para educar. Isso nunca. Não perco a fé nas pessoas. Eu acredito que há muita gente boa, há gente má sim {que nem é o caso, porque quem me dececionou não é má pessoa}, mas que as boas ganham aos pontos. No dia em que deixar de acreditar nisso, não andarei cá a fazer nada.