"Há pais que morrem em vida, devagarinho. Serão, entre todos, os mais dolorosamente ausentes. Acompanham a vida dos filhos, desde sempre. Mas desconhecem-nos. Demitem-se de lhes ler o coração ou de se colocar, por instantes que seja, no lugar deles. Imaginam valer pelos bens que transmitem e nunca pelos sonhos que conquistam (esquecendo que os pais mostram um caminho sempre que o percorrem, nunca se o indicam). Mas morrem um bocadinho se não abraçam. Morrem quando não brincam. Morrem sempre que decepcionam. E são tantas as decepções que os seus gestos acumulam que, quando morrem de facto, os filhos atestam um óbito (mais que desmoronam num choque). E, ao morrerem, deixam a pior de todas as saudades: a saudade pelo que não se viveu. Não são pais pelos gestos que dão mas por tudo o que os filhos desejavam que dessem."
Eduardo Sá [ retirado daqui]
10 comentários:
Um texto mt forte..!
Bom dia!
Maria
Gosto imenso das leituras de Eduardo Sá :)
Deste dia que dizer... há pai de todos os jeitos...
Apesar de ser já mulher adulta, há uma dor que não consigo resolver: Sentir saudade do carinho que não recebi, do apoio que nunca tive. Já um dia agradeci (principalmente à minha mãe) por tudo aquilo que não foram para mim. Foi assim que aprendi a ser quem sou. Sou (tento todos os dias ser) para as minhas filhas o que os meus pais nunca foram para mim. Obrigada pela partilha do texto de hoje.
Gostei muito :(
É exactamente assim.
infelizmente existem 'pais' assim...
:/
E muitas vezes choram, desistem, morrem quando os filhos, por influência de terceiros, "fingem" que não os amam, que não os desejam, que eles pais não importam.
E também importa lembrar, aqueles que não estão presentes na vida dos filhos ou que pretendem estar, pela simples maldade de outros. Esses querem brincar, querem participar, querem amar, e vão morrendo todos os dias um pouco, pela ausência forçada dos filhos! A esses a minha solidariedade, porque é muito triste um pai passar um dia do pai á espera de um telefonema que nunca chega! E que devia chegar, por todas e mais algumas razões do mundo!
Uma rapariga comum
Não percebi o comentário, ou aliás percebi, mas parecia que estavas a falar de algum caso especifico. Isso numa criança, parece-me impossível: fingir que não se gosta de um adulto, que neste caso é o pai. Isso num parece-me atitude de um fraco. Por influência de terceiros? Hummm não percebi, mas se calhar é porque estou cansada!
Escrevi um post à uns dias exactamente sobre este tema. Para mim, o meu Pai foi morrendo devagarinho. O homem que conheci foi desaparecendo até "morrer". Tenho tantas saudades do que ainda tinhamos para viver.
Beijos
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