quinta-feira, 16 de junho de 2011

Pois então o dia 14...

O dia dos meus anos foi uma trampa. Eu nunca liguei muito a este dia, aliás é um dia que me irrita solenemente e desde que casei ou que fui viver com o pai da minha filha passei a abominá-lo.

Ora, na terça-feira fui buscar a MC para almoçar com ela e com a minha mãe. Estávamos no centro comercial cidade do Porto, na zona das casas de banho e a minha filha sempre a dançar. Ela estava ao meu lado a falar comigo, ligeiramente atrás. Tínhamos um balde do lixo grande do lado esquerdo, atrás a porta do elevador e do lado direito uma parede. Estávamos a falar de algo, quando de repente a frase dela ficou a meio. Olhei para trás e deixei de a ver. Não havia como sair dali sem eu ter reparado. Chamei: MC! MC! Nada. Perguntei a uma empregada de limpeza que ali estava, ela respondeu: ainda agora estava aí ao pé da Senhora. Eu sabia que a resposta só poderia ser essa, porque ela não tinha como sair dali daquele espaço de 2 m2 sem eu ver. Olhava para as paredes e para a porta do elevador, incrédula. Olhava, como se a qualquer momento a minha filha fosse aparecer reflectida ali. Parecia que se tinha evaporado. Comecei a ficar nervosa (acho que nem será bem o termo, mas não arranjo outra palavra) olhei para a porta do elevador e vi que só por ali poderia ter saído. Mas porque o faria se nós íamos a uma loja naquele piso? Comecei a chamar insistentemente o elevador e imaginei tudo. Todos os cenários me passaram pela cabeça, todos. O que mais vezes passou, foi: as portas do elevador abriram-se, puxaram-na para dentro e vão levá-la para o parque de estacionamento e eu nunca mais a vou ver. Comecei a pedir ajuda, chamei o segurança, a empregada de limpezas de novo, aí já só gritava. A minha filha tinha literalmente se evaporado. O elevador não voltaria a subir com ela lá dentro, pensei eu. Desatei a descer as escadas do centro comercial que me pareceram labirínticas. Gritava pelo nome dela e chorava de desespero. Comecei a descer a toda a velocidade, só queria chegar ao parque de estacionamento e pedir para o fecharem. A certeza que alguém a tinha puxado, aumentava a cada segundo. Tudo me passou pela cabeça. Pensei tantas vezes na mãe do Rui Pedro, pensei que o pai dela me iria culpar para sempre, pensei o que seria a minha vida sem ela, pensei que nunca mais a iria ver, pensei tanta coisa, mas tanta coisa...

Por fim, cheguei ao piso menos 2 e gritava e chorava e a minha cara deveria mostrar o meu desespero, só a chamava. Há um Senhor da manutenção dos elevadores que olha para mim e diz: está à procura de uma menina perdida no elevador? O meu mundo caiu, desatei num pranto e julguei que ia desmaiar. Só dizia: a minha filha? onde está a minha filha? O Senhor respondeu: quando fui para a ajudar e deitar a mão, a porta do elevador voltou a fechar e eu não consegui. Mas ela estava sozinha. Fiquei ligeiramente mais calma, a teoria que a teriam puxado acabava de cair por terra, ela estava sozinha no elevador. De repente o meu telefone toca, era a minha mãe. A MC está aqui comigo!- disse.

Aí sim, chorei. Chorei como ainda não tinha feito até ali. Foi a viagem mais longa de elevador que fiz até à data , este parou em todos os andares do centro comercial. Eu só a queria nos meus braços, pegar na minha pequenina metê-la numa concha e guardá-la ali para sempre. Ela estava no último andar com a minha mãe. Quando me viu, correu, abraçou-me e disse: quero ir para nossa casa!


nota: não percebi quanto tempo demorou isto. cinco minutos talvez. a mim pareceram-me horas. os elevadores estavam em manutenção e sempre que as portas se abriam e ela pedia ajuda tornavam a fechar. pelos vistos, foi mesmo a dança que a traíu, enquanto deu dois passos para trás (de dança) entrou no elevador e as portas fecharam-se quando gritou por mim eu já não a ouvi. o que ficou nos meus ouvidos foi a frase cortada a meio.

16 comentários:

Desabafista Profissional e Cusca de Blogues disse...

Oh menina imagino a tua aflição.

Não tenho filhos mas o teu relato deixa sentir tudo.

Ainda bem que tudo acabou bem.

Ana ツ disse...

Woow...

Nem quero imagnar a sensação, alias a descrição é suficiente forte e desesperante.

Lamento muito que o teu dia tenha tido esse "mau bocado".

Não me imagino a perder um filho, não que o tenha já para saber o que sentiria, mas quando o tiver vou ter a pior sensação do mundo...

Felizmente tudo terminou em bem. Nem quero imaginar o susto que a MC teve.

Beijinho

Dreams and Chocolate disse...

Imagino o medo :S

Quando eu tinha 5 anos, perdi-me. Essas imagens estão-me na cabeça apesar da idade que tinha! Lembro-me perfeitamente de não encontrar ninguém e do choro de todos quando me encontraram!

Mas ainda bem que tudo acabou bem *

Os meus momentos favoritos disse...

TEnho o meu coração a mil á hora, a imaginar-me na tua situação. Também tenho uma filha.
Já passou, é o que interessa, mas não deves ter ganho para o susto. Fogo. Vou só ali acalmar-me.
Beijinho para ti e para a filhota.

Patricia disse...

Que horror!Tenho uma filha com 19 meses que não para quieta e em centros comerciais anda sempre a correr de um lado para o outro!Tenho medo muito medo!Uma amiga de uma minha"perdeu"o filho num centro comercial,mandaram cerrar imediatamente todas as portas e como os tipos que o levaram nao tinham escapatória largaram-no num sitio qualquer.Ja lhe tinham vestido outra a roupa cortado o cabelo e posto um chapéu,acabou tudo bem mas a intenção era má, nem quero imaginar,aliás so de pensar fico horrorizada e so me apetece agarrá-la a mim e protegê-la de todos esses perigos!Mas como vamos fazer isso,qualquer descuido pode ser fatal!!

Unknown disse...

até eu me senti a sufocar com o teu relato...ainda tenho o meu coração acelarado.

bolas miga...

Confesso Amor disse...

Fiquei arrepiada...
A minha filha tem 7 e nunca para ...imaginei-me a passar pelos mesmo. e sei exactamente como é essa sensação de as querer a braçar como se fossemos uma concha... Imagino como ficaste. Ainda bem que tudo acabou bem

Beijo grande

Unknown disse...

Com o meu irmão aconteceu uma situação semelhante com um elevador, e foi um desespero =S

Titanices disse...

Fiquei sem palavras!!! Por muito que tentemos é de todo impossível imaginarmos o teu desespero... Acho que se me acontecesse algo do género iria até dormir agarrada aos meus filhos durante um ano...
Mas já passou, agarra-te a ela muitas vezes e diz-lhe o quanto a amas, pois ela também apanhou o maior susto da vida dela!!!
Beijinhos às duas!

Helena Barreta disse...

Só pelo relato tenho as lágrimas a saltarem, que susto de morte.

Um abraço apertadinho e tudo de bom, espero que já se tenham recomposto.

Beijinhos

Dina disse...

Nem imagino o teu desespero. Mas, o que importa, é que está tudo bem.

Paula Silva disse...

imagino a tua aflição :-((((((((

Gelatina de morango disse...

Mesmo não tendo filhos fiquei super arrepiada com o teu relato. Felizmente não passou de um susto (enorme).
Já agora aqui fica um beijinho de parabéns atrasado.

Imagina... disse...

só o texto é uma aflição, nem imagino o que estavas a sentir naquele momento!
Ainda bem que acabou tudo em bem.

Beijinho**

Só Sedas disse...

Credo Rita, que desespero. Fiquei com o coração encolhido!

Uma vez ficámos a tomar conta do meu irmão na piscina da urbanização, tinha ele 2-3 anos e em questão de segundos desapareceu. Embora ele já soubesse nadar o primeiro que olhei foi para a água mas não estava, dos miúdos que ali andavam também ninguém o tinha visto, fomos às arrecadações, às casas das máquinas, às portas da garagem, perguntámos ao porteiro... nada. Qeria morrer. No fim, tinha ido buscar um gelado a casa de uma amiga e lá vinha ele escadas abaixo contente e descontraído com ela e a empregada.

Acho que quando tiver filhos, vão andar com trela até aos 21!

MissBlueEyes disse...

Até fiquei emocionada ao ler-te...

Estávamos no Norteshopping, tinha o Tomás uns 2 anos, e aconteceu o mesmo, o Tomás a fugir de nós, entra no elevador, as portas fecham-se a minha amiga nas escadas aos gritos, andamos para cima e para baixo num desespero, quando Ele pegou nele toda Ela estava num desespero...

Beijos Rita :)