Esta era a frase inicial (retirada de um blogue: cartas à filosofia): Um projecto que parecia tão real, tão próximo, que é despejado por terra como um castelo de cartas e nos torna simplesmente descrentes.
Um projecto que parecia tão real, tão próximo, que é despejado por terra como um castelo de cartas e nos torna simplesmente descrentes. É a descrença que assusta, nunca quis tornar-me uma pessoa descrente no amor, nunca… E eu já não acredito que alguém me vá amar como tu me amaste, eu já não acredito que alguém me vá fazer o que tu me fizeste. Desta vez não tinha um projecto, deixei-me levar e o que isto me trouxe foi bom, muito bom. Era o estado em que queria estar sempre: enamorada. Sem os problemas do dia-a-dia, da convivência. Tinha um castelo que parecia tão real, tão próximo, que é despejado por um projecto como cartas de terra e nos torna simplesmente descrentes.
Ele era tão real, tão próximo, como se tivesse estado sempre ao meu lado e a verdade é que nunca tinha. E isso é incrível. Nunca me tinha acontecido, me sentir atraída por alguém pela escrita. E aquilo que vivemos, não era um projecto: era um esboço de uma aguarela, clarinha, clarinha. Mas as marcas da aguarela, podem ser claras, que não deixam de ser marcas. Já não as conseguimos limpar da tela. A tela nunca mais vai ser branca, vai ficar marcada para sempre. Como ficou marcada a minha alma.
Um projecto que parecia tão real, tão próximo que torna a terra como um castelo de cartas e despeja-nos a descrença. Um castelo de cartas caiu quando saíste de Leça. Agora entendo que era um jogo. As cartas estavam em pé, tu empurraste a primeira e eu, com medo e ansiosa, segurei o baralho a meio. Eu queria continuar a jogar. Segurei o baralho e a outra metade ficou intacta. Pouco a pouco comecei a levantar as que tinhas deitado abaixo; faltavam-me três, o cansaço e a ansiedade atrapalharam-me as mãos. Quando levantei a terceira, um movimento em falso deitou tudo abaixo.
E este aqui é o comentário de um dos meus professores preferidos: As frases/hipérbatos dão intensidade e capacidade de sedução ao texto, pois acentuam o seu carácter metafórico. Numa narrativa em que a acção é eminentemente psicológica e os sentimentos são revelados de forma crua, directa, pungente, a imagem do castelo de cartas a desabar confere beleza estética à ideia de perda amorosa e de desagregação emocional.
Mas há mais frases de bom recorte literário e força narrativa, como “era um esboço de uma aguarela, clarinha, clarinha” ou “a tela nunca mais vai ser branca, vai ficar marcada para sempre. Como ficou marcada a minha alma”.
Em resumo, o texto é feliz porque, para além da catadupa de emoções, tem um registo metafórico certeiro, sustentado na associação de um castelo de cartas a cair com o fim de uma relação amorosa. O final do texto é particularmente enternecedor: “Eu queria continuar a jogar. (...) Quando levantei a terceira, um movimento em falso deitou tudo abaixo”. Acontece aos melhores...
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
E porque eu acho que vocês são adoráveis...
... decidi partilhar aqui um texto meu. Foi escrito numa aula de escrita criativa, estou muito cansada para explicar esta técnica ( hiperbato com troca de nomes e verbos), mas se estiverem atentas (os) percebem facilmente. Quero salvaguardar que os textos são ficção e têm várias histórias interligadas. Em nada são semelhantes à realidade, nem aos textos que aqui escrevo, esses sim, são do mais real que há.
Esta foi provavelmente a última vez que aqui pus um texto meu das aulas. Mas como tantas vezes perguntam o que é isso da escrita criativa. Aqui está um exemplo do que lá faço e aprendo: a desbloquear a escrita. Por exemplo este texto tinha que ser escrito no máximo de 3 minutos, há sempre (ou quase sempre) limite de tempo.
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5 comentários:
Adorei Rita. Ou não fosse eu de Letras! Espero que esse curso sirva, entre muitas outras coisas, para deitar cá para fora tudo aquilo que necessita expressar. Escrever faz muito bem! Keep going*
Queria tanto! O mais parecido que arranjei por aqui (não tem nada a ver) foi um curso de aperfeiçoamento da língua portuguesa.
Isabel manda-me email. O Pedro dá imensos cursos e por vezes em vários outros pontos do país. E esse que me falaste adorava tirar... onde é?
Manda-me email sff:esteblogueprecisadeumnome@hotmail.com
beijo enorme Rita
Se há coisa que gostava de fazer era tirar um curso de escrita criativa...adoro escrever, mas gostava de aprender a fazê-lo mesmo bem...
Beijinhs***
http://segredos_escondidos.blogs.sapo.pt/
Andreia S
Olá. Não acho que um curso de escrita criativa te vá ensinar a escrever bem. Atenção que nem sei se escreves bem ou mal. Um curso de escrita criativa ensina-te técnicas para tu desbloqueares a tua escrita. Tenta. Manda-me um email que eu digo-te o curso que estou a tirar. Por exemplo, eu não escrevo nada por aí além e já vou no segundo curso e está nos meus planos o terceiro.
Alguém disse: "A escrita é como um porco, aproveita-se tudo.".
Beijo
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