segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Hoje acordei assim:


O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser…
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto…
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço…

Álvaro de Campos

6 comentários:

  1. Adoro Fernando Pessoa!!! Penso que está um pouco em cada um de nós...exteriorizou/materializou o que por vezes não conseguimos!!!
    Beijinho

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  2. ainda hoje saiu um poema de Álvaro de campos no meu teste de Português, também se refere a cansaço

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  3. Olá =)
    Sou leitora assídua já à um ano e qualquer coisa mas acho que nunca comentei.
    Adoro o seu blog, as histórias que conta sobre a MC, a forma como me faz rir.. enfim tudo ;)
    Parabéns pelo blog!

    Um beijinho
    Pearl

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  4. Acabei por me esquecer de comentar o poema: lindíssimo que só ele!

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